1 de junho de 2007

Petrodólares mais verdes?

Abu Dhabi tem vindo a consolidar-se como uma das cidades mais inovadoras não só dos Emirados Árabes Unidos (EAU), mas do mundo. Quando a utilização do solo desértico começou a aproximar-se dos valores máximos, surgiram ilhas artificiais com condomínios privados. Quando os arranha-céus de escritórios (que rivalizam com os norte-americanos) começaram a fartar, projectaram-se museus, universidades, salas de concertos e casinos. Aquilo que começou por ser uma miragem, acabou por se tornar numa das cidades mais prósperas das últimas décadas. E, aos poucos, todos os nomes sonantes da arquitectura quiseram cunhar a sua marca – Jean Nouvel, Frank Gehry. Zaha Hadid,…

Nada disto é difícil quando estamos a falar de uma cidade-estado com 10% da produção mundial de petróleo (cerca de 2 milhões de barris por dia). Já para não falar das maiores reservas de gás do mundo (mais de 20 triliões de metros cúbicos).

Mas os EAU encontram-se num ponto fulcral do seu desenvolvimento. Segundo uma notícia publicada ontem no International Herald Tribune (www.iht.com) , o governo destes estados passou de uma atitude de novo-rico, tentando construir os melhores e os maiores hotéis, para uma atitude consciente , procurando atingir as mais altas eficiências ambientais e ecológicas.

Muito deste esforço deveu-se ao falecido governante dos EAU, o Sheik Zayed bin Sultan Al Nahyan, um declarado ambientalista “muito antes do termo ser moda”, segundo o referido jornal. Entre algumas das suas medidas mais populares, encontram-se a plantação de mais de 120 milhões de árvores nos Emirados, a criação de leis de protecção do património faunístico e florístico, bem como de uma agência encarregue de as fazer valer, ou ainda a criação de uma grande zona protegida em solo desértico.

Actualmente essa filosofia continua presente, sobretudo graças aos esforços do seu filho, o actual governante deste território. Verifica-se pois que a atitude de respeito para com o ambiente não foi uma mera questão de modas (como tantas vezes acabamos por constatar) mas talvez o início de uma verdadeira mudança cultural de uma nação.

Estamos perante um caso em que, assente numa fortuna incalculável proveniente do petróleo, surgiu uma consciência ambiental e ecológica consolidada.

Bem sei que o dinheiro torna tudo mais fácil. E neste caso cumpre-se a vontade soberana, o que ainda torna o processo mais autoritário. Mas também sei que países com fortunas ainda maiores que os EAU, como os EUA (atenção à possível confusa com as siglas!), não só não tentam desencadear processos semelhantes, como ainda tentam bloquear aqueles que tentam fazer alguma coisa para mudar e insistem em violar sistematicamente todos os acordos internacionais que procuram chegar a consensos e equilíbrios.

Portugal não pode proceder da mesma forma, mas apenas acreditar que, de formas inovadoras, se pode ir mudando a mentalidade e, por isso, a vontade de um povo, de uma Nação. Tomemos então isto como exemplo.

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