14 de agosto de 2009

< A migração >

Depois de duas semanitas de férias e praia, lá voltei para Lisboa e para a vida de trabalhador. Este tempo de descanso, apesar de curto (é sempre curto) serviu para começar a pôr algumas ideias no sítio.

Pois é meus amigos, depois de pensar e repensar, chegou a hora de mudar um pouco o rumo da minha actividade aqui no fabuloso mundo dos blogues. Reparei que um dos meus grandes problemas era o facto de sentir que o formato deste blogue já não me transmitia nada forte. Já não me representava.

A minha maior frustração nestes últimos tempos foi a percepção de que a grande maioria dos blogues, dentro do meu tema ou não, acabam por se copiar uns aos outros, num ciclo que tem tanto de vasto como de vicioso. E a minha desmotivação começou a ser notória, bem sei.

Por essa razão resolvi migrar. Criei um novo blogue, num formato diferente e que será escrito num registo também inteiramente diferente. Escreverei artigos de carácter mais intímo, o que é sem dúvida novo para mim, e desta vez, sem vergonha ou receio das minhas próprias opiniões ou sentimentos.

Para mim, um blogue deve ser antes de mais uma visão pessoal em relação a um qualquer assunto (ou vários assuntos). A cópia, a adulteração, e o uso indevido de informações acabam por gerar monotonia, e, no meu caso, desmotivação.

A outra grande novidade é que este novo blogue será escrito inteiramente em inglês. Não por qualquer tipo de pretensiosismo, mas como um desafio em si mesmo. Desta forma poderei treinar o meu inglês e acredito que a própria forma de escrever será também diferente, ou não fosse uma língua também uma forma de pensar.

Este salto para outro blogue não quer dizer necessariamente que este está morto. Se calhar qualquer dia volto a ter vontade de aqui regressar e continuar na minha busca incessante por coisas novas no mundo das artes (aliás, acho que essa busca nunca cessará, apenas passará a ser demonstrada noutros moldes).

De qualquer maneira, todos aqueles que tenham alguma curiosidade, estão mais do que convidados a dar um pulinho e, quem sabe, se interessem também pelo meu novo eu na esfera bloggiana.

Vemo-nos então no novíssimo Chronicles of the onion flavour:


> http://onionflavour.blogspot.com/

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24 de julho de 2009

< Trans(formações) >

As pessoas que me lêem aqui no blog perguntam-me porque tenho publicado tão pouca coisa ultimamente. Perguntam se se passa alguma coisa. Se estou farto desta conversa dos blogues.

A verdade é que estou a passar por uma fase na minha vida em que estão a acontecer grandes transformações. Silenciosas, invisiveis por fora até, mas fortes. Sobre mim, a minha vida, a arquitectura (que é no fundo a minha vida) e naturalmente sobre o meu futuro.

Sempre fui uma pessoa bastante decidida em quase tudo. Talvez por isso, ao deparar-me com um ponto de charneira no meu percurso, me encontre especialmente alerta. Sem medo, sem desespero, mas com bastante cuidado e sobretudo curiosidade sobre o que resultará de tanto pensamento.

Chamo a esta fase de Repensamento. Poderia chamá-la de Crise, como tantos fazem. Mas optei por algo mais optimista. Não estou em crise, mas simplesmente a repensar em todas as hipóteses que tenho reservadas para o meu futuro.

Sei que, tal como eu, algumas pessoas, umas mais próximas outras nem tanto, se encontram em processos parecidos. Umas param tudo aquilo que estão a fazer...outras simplesmente continuam aquilo que estavam a fazer até então e começam a tentar também outras coisas.

Para aqueles que já me perguntaram se vou desistir daquilo que faço, ou mesmo deste blogue, responde desde já que não.

Acontece que vou amanhã de férias e vou aproveitar este tempo de descanso para pensar sobre mim, sobre o meu futuro e consequentemente sobre o futuro deste blogue.

Espero regressar com algumas respostas e, quem sabe, até com algumas novidades. Mas durante as minhas férias não deverão registar grande actividade por aqui. De qualquer maneira vão passando por estas páginas, pode ser que tenham uma surpresa!

A todos umas boas férias.


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15 de julho de 2009

< Entre][vista_Nuno Coelho, Designer de Comunicação >


A visão
dos Designers enquanto super-heróis é megalómana e egocêntrica.

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Português


01. Comecemos por falar da tua experiência profissional. És formado em Design de Comunicação e o teu trabalho tem-te levado a campos muito distintos. Em que tipo de trabalho te sentes realmente confortável? Esse conforto é importante ou procuras sempre novos desafios?

Dentro do Design de Comunicação sinto-me mais confortável quando desenvolvo materiais impressos por dominar todas as respectivas fases de projecto. Em relação a aplicações para a web, por exemplo, dependo sempre da prestação de serviços de programação por terceiros, o que torna o processo de trabalho mais complexo. Independentemente da natureza da proposta (impressa ou virtual) prefiro desenvolver trabalho para projectos artísticos e instituições culturais essencialmente por duas razões: em primeiro lugar, por conseguir desenvolver soluções mais interessantes do ponto de vista conceptual devido ao público-alvo deste tipo de iniciativas ser mais sensível a um tipo de propostas menos comuns; em segundo lugar, por obedecer a uma ideologia pessoal de evitar trabalhar para entidades cuja actividade é essencialmente comercial. Sem dúvida que são sempre importantes novos desafios e cada novo trabalho acaba por o ser, num grau maior ou menor, pois cada nova proposta responde a uma problemática completamente distinta.

02. De todos os trabalhos que te passaram pelas mãos, peço-te que nomeies um que te tenha marcado particularmente e a razão para tal ter acontecido.

Em 2005 fui contactado pelo coreógrafo Miguel Pereira a fim de desenvolver a campanha de divulgação da peça de dança contemporânea que ele, na altura, se encontrava a desenvolver. Assisti a alguns ensaios meses antes da sua estreia e em palco vi seis corpos masculinos que se vestiam e despiam constantemente. Por vezes o nosso olhar "voyeur" desviava-se da figura humana para se concentrar no jogo multicolorido das várias peças de roupa diferentes que "dançavam" ao longo da coreografia. Aos meus olhos elas pareciam ser o elemento dinamizador de maior importância na peça e que, em determinados momentos, tiravam protagonismo aos próprios intérpretes. Foi durante um dos ensaios que me surgiu a ideia de produzir posters em tecido recorrendo ao uso de retalhos impressos através de
serigrafia. Desta forma foram usados cerca de 50 padrões diferentes que levavam uma espécie de "carimbo" serigráfico recorrendo apenas a uma cor. Esta ideia de reciclagem e de contenção orçamental ia de encontro ao valor disponível para a campanha de divulgação que era muito reduzido. Para além disso, respondia ao pedido do coreógrafo para que o poster não fosse apenas um mero suporte informativo mas que, de alguma maneira, conseguisse ser uma peça fundamental do espectáculo. Também penso ter conseguido traduzir as múltiplas cores presentes na peça que um poster impresso apenas a uma cor não conseguiria transmitir. Apesar disso, foi um dos únicos trabalhos que senti, na fase da sua produção, que o resultado poderia falhar redondamente uma vez os posters começassem a ser expostos publicamente. Esta sensação de risco foi totalmente partilhada pelo coreógrafo que deu a última palavra sobre o trabalho antes de avançarmos. Apesar do trabalho ter tido uma muito boa aceitação da parte do público, para além de ter sido a proposta vencedora do concurso Jovens Criadores na categoria de Design Gráfico nesse ano, o facto de sentir que estava a trabalhar para alguém que reconhece que é importante tomar riscos, foi o aspecto mais positivo que guardo desse trabalho.

03. Assisti a uma apresentação de um trabalho teu na última noite do Pecha Kucha. Disseste na altura que tinhas um grande interesse pela política internacional e que isso te tinha levado ao desenvolvimento do trabalho intitulado “Uma Terra Sem Gente para Gente Sem Terra”. Podes descrevê-lo resumidamente? Qual foi a mensagem que quiseste passar?

A exposição "Uma Terra Sem Gente, Para Gente Sem Terra" é composta por diversos posters de grande formato, com desenhos de contorno a preto-e-branco, que convidam os visitantes a preencher de cor usando os diversos lápis dispostos para o efeito. Os posters mostram diversos mapas e gráficos, assim como desenhos realizados a partir de fotografias que recolhi numa viagem de um mês que fiz à Palestina em 2006 em conjunto com um amigo meu inglês. Na exposição tento traduzir em narrativas as tensões sociais que fazem parte do quotidiano daquela região, propondo uma nova abordagem de pensamento sobre o conflito israelo-árabe, assim como um olhar crítico mas também irónico que poderá mostrar o absurdo da situação presente. Sou da opinião que, apesar de haver um discurso global sobre a Palestina, poucas pessoas conseguem ver além das imagens e títulos chocantes gerados pelos media e compreender os princípios básicos do conflito. A minha viagem à Palestina, onde desenvolvi actividades artísticas para crianças refugiadas palestinianas em regime de voluntariado, fez com que me apercebesse de pequenos pormenores da vida quotidiana que não chegam até nós pelo simples facto de não serem suficientemente mediáticos. Para mim a realidade foi mais chocante na perspectiva destas pequenas coisas do dia-a-dia e foram estes factos que procurei divulgar através da exposição. Apesar da ideia original e dos desenhos serem meus, a exposição é complementada com uma forte componente textual escrita por esse meu amigo com quem partilhei a viagem, o Adam Kershaw.

04. Sendo o Design uma forma de comunicação, como avalias a sua importância no cenário da política internacional? Poderá o Design ajudar a formar uma consciência do mundo contemporâneo?

Há muito tempo que se fala do Design como uma disciplina para mudar ou mesmo salvar o Mundo. Não sou subscritor de muitas opiniões que defendem o Design como "a" disciplina que irá mudar o Mundo. Esta visão do Design, em que os Designers seriam uma espécie de super-heróis, é muito megalómana e egocêntrica. Para mim o Design enquanto agente de mudança só faz sentido quando aliado a outras disciplinas, tais como a Política, a Sociologia, a Antropologia, a Educação, a Cultura, entre muitas, muitas outras. Só assim poderá funcionar como catalizador cultural e ter o impacto desejado na sociedade. Desta forma e enquanto disciplina projectual, o Design deve ser aplicado em sistemas que mudem a nossa percepção do ambiente que nos rodeia permitindo uma maior troca de valores que não necessariamente comerciais mas essencialmente culturais.

05. Em 1494, Portugal e Espanha dividiram o mundo. E em 1945 os EUA e a Rússia também o dividiram. Quem o divide hoje?

Apesar de não acreditar completamente no designado "choque de religiões", creio que nos dias de hoje há uma tentativa em dividir o mundo entre sociedades de tradição judaico-cristãs e sociedades de tradição muçulmana. Digo "tradição" pois apesar de, por exemplo, Portugal ser considerado uma sociedade secular, a verdade é que ainda se sente a presença muito forte de valores religiosos na nossa maneira de agir e de pensar mesmo naqueles que se consideram agnósticos ou mesmo ateus. Assistimos, portanto, a uma suposta bipolarização do mundo baseada em confissões religiosas que, paradoxalmente, têm todas a mesma origem comum (apesar de muitos afirmarem que não poderiam ser mais distintas). Tenho viajado por países onde a confissão religiosa da população é esmagadoramente muçulmana e por lá tenho tido imensas conversas sobre questões políticas e sociais que serviriam para derrubar imensos preconceitos de pessoas ocidentais sobre esses países ou culturas. O "muro" que separa estas supostamente distintas sociedades é cimentado pela nossa própria ignorância, pelo nosso desconhecimento em relação ao outro, em relação àquele que é diferente de nós.

06. Sei que também te dedicas ao mundo da Música. É um hobby ou uma actividade paralela ao Design?

A minha actividade como DJ foi sempre vista por mim como uma actividade paralela à de Designer, embora com uma importância relativamente menor. Trata-se de uma actividade que iniciei em 1995 e que me acompanha desde os meus tempos de estudante. Apesar de sentir imenso prazer nesta actividade, recentemente ela foi remetida para um segundo plano a partir do momento em que comecei a leccionar a disciplina de Design nos cursos de Design e Multimédia da Universidade de Coimbra. Apesar de continuar a actuar com DJ, embora de uma forma mais pontual, ao estabelecer novas prioridades na minha actividade profissional a música deixou de ter a importância que há alguns anos chegou a ocupar na minha vida pessoal.

07. Entendes a Música também como uma forma de comunicares as tuas ideias? Em caso afirmativo, que mensagem(s) tentas dar a quem te ouve?

Ao contrário da minha actividade como Designer (e agora também como docente), as minhas actuações como DJ são realizadas de uma forma espontânea e despreocupada. Não há nenhuma mensagem por detrás dos meus "sets". Espero apenas conseguir proporcionar uma noite divertida a quem me ouve.

08. Algum conselho que queiras deixar aos estudantes de Design que estejam a preparar a sua difícil entrada no mercado profissional?

Antes de nos definirmos pela nossa actividade profissional, neste caso a de Designer, temos de nos definir como pessoas, como indivíduos. E como indivíduos temos de criar o nosso conjunto de valores morais e ideológicos. Alguém que não tenha interesse particular por questões
sociais, ou por política, religião, ou muitos outros temas, como pode ser bom profissional? Se a nossa consciência for tão flexível ou alienada, como se pode ser forte na prática do Design? Atenção que não estou a defender que é preciso ser activo política ou religiosamente. A título de exemplo, e apesar de ser ateu, reconheço que é preciso conhecer as religiões por dentro para melhor compreendermos a sociedade em que vivemos devido à sua incontornável influência. O mesmo se passa com muitos outros sistemas ideológicos ou de valor. Conhecer o mundo em que vivemos nas suas mais diversas formas e não apenas o "mundinho" que nos rodeia, faz de nós melhores indivíduos e, consequentemente, melhores profissionais. Conhecimento é, portanto, a palavra de ordem.

09. Onde te imaginas daqui a 10 anos?

Definitivamente a vida é cheia de surpresas e há dez anos atrás não me imaginava como sou hoje. Provavelmente saberia que iria ser designer, uma vez que os meus estudos estavam a ser realizados nessa direcção. Mas refiro-me mais à minha actual maneira de pensar e de agir. É bem certo que daqui a uma década vou ser uma pessoa distinta e que, mesmo que agora tente, não a vou conseguir descrever. Simplesmente é uma pergunta que nunca faço a mim mesmo.


Qual é a sua opinião?

Dê uma espreitadela

> http://www.nunocoelho.net/



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The vision in which Designers are superheroes is quite megalomaniac and egocentric.

English

01. Let’s start by talking about your professional experience. You’ve studied Communication Design and your work has taken you to a variety of fields of expertise. What kind of work are you the most comfortable with? Is that comfort important or do you constantly seek new challenges?

Within Communication Design I feel more comfortable when I develop printed material because I have a great degree of control over every one of the project’s phases. Regarding web applications, for example, I always have to rely on programming services provided by others, which turns the whole working progress more complex. Regardless of the offer’s nature (printed or virtual) I prefer to develop work related with artistic projects and cultural institutions, mainly because of the two following reasons: firstly, because I can develop more interesting solutions, from a conceptual standpoint, due to the fact of the target of this kind of initiative being more sensitive to less mainstream proposals; secondly, because I follow a personal creed which is that of avoiding to work for entities solely based on commercial activity. New jobs are always undoubtedly important new challenges, in a major or minor extent, for each new proposal responds to its problem.

02. Of all the work you’ve been in contact with, I ask you to tell me of a piece that particularly moved you and the reason as to why that happened.

In 2005 I was contacted by choreographer Miguel Pereira in order to develop a campaign for the contemporary dance piece he was developing at the time. I watched a few rehearsals before the premier and I saw six male bodies that constantly dressed and undressed themselves. At times, our “voyeur” gaze would divert itself from the human form only to concentrate on the multicoloured game of the different clothing pieces that “danced” along with the choreography. To me it seemed like they were the most important element in the whole piece and that at certain moments they’d rob the dancers of their stardom. It was during one of the rehearsals that I came by the idea of producing textile based posters, relying on the use of cloth with serigraphic print. There were used about 50 different patterns that were branded with a sort of serigraphic “stamp”, using only one colour. This idea of recycling and of budget restraint met the requirements of a very low budget campaign. Furthermore, it responded to the choreographer’s request of the poster not being a mere informative surface but of also being, in a way, capable of turning itself into a fundamental piece of the show. I also believe I was able to convey the multiple colours present in the play, which a printed poster would not translate. In spite of all this, it was one of the very few assignments in which I felt that, in its production phase, the result could be that of a plundering flop when the posters started being publicly exposed. This sense of risk was also felt by the choreographer, who gave the last word regarding this project before it was released. Though it had a great level of acceptance within the audience, and aside from having been the winner of the Young Creators contest’s Graphic Design category that year, the fact that I felt that I was working for someone who recognized the importance of taking chances was the most positive aspect I retained from that project.

03. I was present at the presentation of a piece of yours at the last Pecha Kucha night. At the time you said that you had a great interest in international politics and that that had taken you to the development of something called “A Land without People for a People without a Land”. Can you succinctly describe it? What message were you attempting to convey?

The “A Land without People for a People without a Land” exhibit is comprised of a range of large format posters, with black and white contoured designs, that invite people to fill them in with colour by using the pencils made available for such action. The posters show various maps and charts, as well as drawings I made, based on pictures I took in a 2006 one month trip I made to Palestine, with an English friend. This exhibit is an attempt of mine to convey the social tensions that are a part of that region’s everyday life, thus proposing a new point of view regarding the middle-eastern conflict, as well as a critical and ironic eye that may demonstrate the absurdity of the present situation. I believe that, even though there’s a global speech on Palestine, only a few people can see beyond the shocking images and titles exposed by the media and understand the basic principles of the conflict. My trip to Palestine, where I developed artistic activities for refugee children under the form of voluntary work, made me see small details of the daily life that we’re not aware of simply because they’re not “media material”. To me reality was more shocking through the eyes of daily life and it was these facts that I sought to divulge in the exhibit. Though the original idea and designs are mine, the exhibit is strongly enriched by a textual component written by my friend with whom I embarked on such a trip, Adam Kershaw.

04. Being Design a form of communication, how would you rate its importance in international politics? Could Design help in forming a conscience of the comtemporary world?

It has long been said that Design may change or even save the World. Personally, I don’t adhere to conceptions that defend the Design will save the World by itself. This vision of Design, in which designers are portrayed as superheroes, is quite megalomaniac and egocentric. To me, Design as a bringer of change, only makes sense when partnered with other areas of expertise, such as Politics, Sociology, Anthropology, Education, Culture, among many, many others. Only then will it be able to work as a cultural catalyst and have the desired impact on society. This way, and as a project based field, Design should be applied to systems that change our perception of the environment that surrounds us, making way for a growth in the exchange of values, not necessarily commercial ones, but essentially cultural values.

05. In 1494, Portugal and Spain split the World. And in 1945 the USA and Russia also divided it. Who does so today?

Though I’m not a full fledged believer in the so called “shock of religions”, I believe that nowadays there’s an attempt to divide the world in societies with a Jewish and Christian background and in societies based in Muslim tradition. I used the word “tradition” due to, for example, despite Portugal being considered a secular society, the truth is that you can still feel the presence of very strong religious values in our way of acting or thinking, even in those who consider themselves Agnostics or Atheists. Thus, we bear witness to a supposed bipolarization of the world, based on religious confessions that, paradoxically, all have the same origin (though quite a few defend that they couldn’t differ more). I’ve travelled around countries where the population’s religious confession is overwhelmingly Muslim and there I’ve had a number of conversations regarding political and social subjects that helped a great deal in abolishing the bigotry of the western people, regarding those countries or cultures. The “wall” that separates these supposedly distinct societies is held up by our own ignorance, by our not knowing those who are different from us.

06. I know you also dedicate yourself to Music. Is it a hobby or is it something parallel to your job as a Designer?

I’ve always seen my work as a DJ as something parallel to being a Designer, though it is of relatively less importance. It’s something I started in 1995 and I’ve been doing it since I was a student. Despite it being quite a pleasurable field, it’s been put on standby since I started teaching the subject of Design in the Design and Multimedia courses at Coimbra University. Despite still performing as a DJ, even if quite sporadically, by establishing new priorities in my professional life music has lost some of the importance it had a few years ago in what concerns my personal life.

07. Do you see Music as a way to communicate your ideas? If so, what message(s) do you try to convey to your listeners?

Contrary to my activity as a Designer (and now also as a teacher), my performances as a DJ are absolutely spontaneous and relaxed. There’s no message behind my “sets”. I only hope to be able to give those who listen to my music an enjoyable night.

08. Is there any advice you’d like to give to Design students who are preparing their difficult entry into the professional world?

Before defining ourselves by our professional activity, in this case being a Designer, we have to define ourselves as persons, as individuals. And as individuals we have to create our own set of moral and ideological values. How can someone who has no particular interest in social, political, religious and other subjects be a good professional? How can we be good Designers if our conscience is overtly flexible or alienated? I’m not defending that we should all be political or religious activists. I, for example, though I am an atheist, recognize that we need to know the way the various forms of religion work in order to better understand the society we live in due to their undeniable influence. The same happens with a lot more different ideological or value systems. Knowing the world we live in, in its most diverse forms and not just the “bubble” that surrounds us, makes us better individuals and, consequently, better professionals. Knowledge is, therefore, key.

09. Where do you see yourself in ten years?

Life is definitely full of surprises and ten years ago I didn’t imagine myself as I am today. I probably knew I wanted to be a Designer, since I was studying in that direction. But I’m talking more about my current way of thinking and acting. It’s certain that in a decade I’ll be a different person and that, even if I try, I won’t be able to describe that person. It’s just a question I never ask myself.

translated by Manuel Costa Campos

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< Parabéns PROAP! >











Amigos e amigas, é com todo o prazer que anuncio que a PROAP venceu o concurso do parque urbano de Valedebebas, com a proposta intitulada Sol y Sombra!

Recebemos a notícia ontem aqui na Terramorfose, e não podíamos ficar mais contentes. Tivemos a oportunidade de participar na proposta, neste segunda e última fase, por isso também estamos um bocadinho orgulhosos!

Para todos aqueles que ainda não conhecem a proposta, a ideia surgiu de um aproveitamento da topografia do lugar como forma de recolha e armazenamento de água. O resultado formal manifesta-se numa série de lagoas articuladas, sensíveis à flutuação sazonal e anual do volume de água aqui existente.

O remate do limite do parque com o grande plano de urbanização previsto para esta nova zona de Madrid surge articulado enquanto miradouro sobre a paisagem. A quadrícula urbana forte transborda inclusivamente, em termos conceptuais, enquanto programa artístico, uma "quadrícula de acontecimentos".

Penso que em breve, poderão ver no site do atelier os planos e as imagens, que contarão a história melhor do que eu mas, até lá, ficam aqui com uma das imagens de ambientes que foram produzidas.

Podem ainda consultar mais informações aqui:

> Imprensa espanhola

> Parque de Valdebebas

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30 de junho de 2009

< Auf wiedersehen Pina Bausch >


27 / 07 / 1940 - 30 / 06/ 2009


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26 de junho de 2009

< Now that's what I call style >















































in Fall
by Erwin Olaf

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< I'm lost in Paris >













I'm Lost in Paris

by R&Sie(n)


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< Espreito por uma porta encostada >

Se está vivo respira
Se respira então sente
Se sente é único
Se é único é especial
Se é especial é grande
Se é grande já foi pequeno
Se foi pequeno então cresceu
Se cresceu foi porque viveu
Se viveu, morreu.

_ João Múrias


Em divagações pelo fabuloso mundo do Facebook, esbarrei há pouco neste blog intitulado The unexpected, dinamizado por João Múrias, que se define como um pop urban artist.

Fiquei fascinado, e ao mesmo tempo inquietado, pela sinceridade das suas imagens e dos seus textos. Principalmente dos seus textos. Dêem uma espreitadela aqui.

Como diria o próprio João Múrias:

Moral da história:

O facebook tem coisas que valem mesmo a pena.


> http://joaomurias.blogspot.com/


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< R.I.P. M.J. >


Ao que parece já todas as pessoas no mundo (incluindo a minha avó) prestaram uma última homenagem a Michael Jackson. Pois eu também quero prestar a minha própria homenagem, essencialmente pela influência que exerceu na minha infância e início de adolescência.

Ontem à noite, a seguir ao jantar, fui tomar café com os meus grandes amigos, quando se soube da triste notícia. Desde logo a Patrícia começou tristemente a entoar os acordes de Billy Jean, o Miguel quis ir para casa para ver os acontecimentos pela Sky News, a Mafalda e a Joana quiseram que o senhor que estava por ali a cantar covers ao vivo cantasse uma música dele e eu telefonei ao António, o meu irmão mais novo, para ver se ele confirmava a notícia. O resto da noite foi passada a relembrar concertos antigos (quem teve essa sorte enorme), festas de adolescência, ou acontecimentos famosos.

Era este o efeito que Michael Jackson tinha nas pessoas. Mais do que um músico genial, redefiniu os contornos da música pop e das músicas dançantes na noite. Foi o percursor de toda a música afro-americana que hoje domina o mundo e foi o primeiro a ter um vídeo clip a passar na MTV. Detém o recorde do albúm mais vendido em todo o mundo, do tempo em que as suas músicas estiveram no top ten da Billboard e de ter o albúm mais vendido em dois anos consecutivos. Foi o primeiro a voar num concerto e uma das suas músicas foi considerada a música mais influente do século XX.

Quem nunca tentou fazer os passos do conhecido Moonwalk que escreva aqui um comentário. A explicar porque não o fez, é claro!

Já todos os famosos, e aqueles que se julgam famosos mas não o são assim tanto, disseram qualquer coisa sobre M.J. Justin Timberlake admite a perda de um músico genial e Madonna diz que não consegue parar de chorar. Artistas de música clássica, de dança, R&B's, rap, electrónica, indie, gospel, punk, transe, world, fado, reggae, rock, hard rock, e muitos outros estilos musicais, reconhecem o seu génio. Goste-se ou não da sua música.

A verdadeira homenagem que se pode fazer ao rei da Pop é ouvir a sua música. E falar dela. Da sua vida privada, oculta em tantos mistérios, pouco importa. E se esta foi, infelizmente, ganhando cada vez mais força, ao ponto de o considerarmos quase uma matéria estranha na Terra, a natureza da sua morte serviu para nos fazer lembrar de que, por detrás deste mito, viveu um homem pressionado desde sempre.

Morreu com 50 anos, ao fim de 45 anos de carreira. Está tudo dito.


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25 de junho de 2009

< Quote 59 >

Question:

Your photos are AMAZING. What kind of camera do you use?

Answer:

I fuckin hate that question.

It takes more than a camera to take a good picture. You need the eye for it. I've taken pictures on my cell phone that i've use in college projects.

Fuck the camera.


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< A semana numa imagem >


Este desenho é, desde há bocado, o fundo do meu ambiente de trabalho.

Trata-se de um trabalho do artista norte-americano Lucas Monaco. Estou na dúvida se isto será um monstro ou uma onda aterradora.

Gostei tanto desta imagem que é também, a imagem desta semana. Tenho pena de não a conseguir publicar aqui no seu tamanho original, para se poder ver a trabalho meticuloso. Se ficaram interessados, podem ver a obra completa aqui.

> http://www.lucasmonaco.com/


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23 de junho de 2009

< Quote 58 >

O objectivo da Arquitectura é o habitar.

_Heidegger


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< So it is true... >


No outro dia li uns rumores de que o High Line Park, o projecto mais aguardado dos últimos tempos, já tinha, finalmente aberto.


Curioso como sou, e não podendo confirmar pelos meus próprios olhos com uma viagem relâmpago a NY (pelas razões óbvias), lá fui ao site do atelier Field Operations, uma das equipas intervenientes neste processo megalómano.

E não é que era mesmo verdade? Ao que parece abriu no passado dia 9 deste mês.

Podendo gostar do projecto, ou não, aquilo que somos obrigados a reconhecer é a audácia dos governos locais em se atirarem a projecto desta natureza. O principal objectivo, amplamente conseguido foi a vontade de recuperação de uma velha infraestrutura que trazia matérias-prima às indústrias que outrora se localizavam no centro da cidade, a High Line, e a sua transformação em espaço público para o peão, numa óptico do lazer, do passeio e do convívio.

O High Line foi, ainda antes da sua construção, desde logo elevado a mito, à boa maneira americana. Mas é, e será a partir de agora, um marco inevitável na metrópole de todas as metrópoles.

Para os que ainda não conhecem, e para aqueles que ainda não ficaram encharcados pela quantidade de vezes que já nos atiraram imagens deste projecto para cima, não deixem de espreitar o site aqui. Logo à entrada do site poderão ver estas e outras imagens do projecto.

Para os que tiverem a ousadia de entrar e conhecer o trabalho deste atelier, adianto desde já que os projectos são brutais, o site idem e, lá no meio, certamente encontrarão o que procuram.

> http://www.fieldoperations.net/


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< Quote 57 >

A simplicidade é a derradeira sofisticação.

_ Leonardo da Vinci


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< Behond Architecture >


















Não morro de amores pela senhora. Quero dizer, pelo trabalho da senhora, que não a conheço.

Mas uma coisa tenho de admitir: tem imaginação para dar e vender. Depois de participações em projectos conjuntos para as marcas Melissa, Swarovski e Louis Vuitton e depois ainda de ter fascinado o mundo (e o próprio Lagerfeld) com a cibernética e curvilínea Casa Chanel, Zaha Hadid decidiu que tinha também algo a dizer no mundo dos sapatos. E a Lacoste concorda.

As imagens não deixam ainda antever uma forma definitiva dos sapatos. Tal como nos seus projectos de arquitectura, Hadid põe um individuo com uma capacidade criativa de uma pedra da calçada a sonhar. Essa é aliás a sua ferramenta de trabalho mais forte.

Sabe-se apenas que a pele do crocodilo será reinterpretada e que a ergonomia dos sapatos permitirá que este se vá adaptando ao pé, numa criação sucessiva de formas.

Será lançada uma colecção limitada em Julho e, para o comum dos mortais será posta à venda em Setembro.

Como diria o outro...aguardemos.


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22 de junho de 2009

< If only I could live here... >




















images by Alex Mcleod


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< Shall we dance ? >

photo by Wong Maye-E

Estes fins de tarde, quando o ar fresco começa a fazer-se sentir, dão-me vontade eonrme de dançar. Na praia, no meio da rua ou dentro de casa. Numa disco, num baile de gala ou num concerto. Numa festa de um amigo, de um conhecido ou no meio de desconhecidos . Com uma pessoa, com um robot ou no meio de uma roda. Tanto me faz.

Quase por acaso, que nestas coisas nada é por mero acaso, deparei-me com uma colecção de fotografias do diário The Boston Globe, realmente electrizante. Retratam danças de todo o mundo e de todo o tipo. Quase sem dar por isso, comecei a bater o pé ao som dos ritmos brasileiros que temos ouvido aqui no atelier.

Eu gostei desta imagem de um ensaio da dança Sutra dos monges do Templo de Shaolin, para o Festival Anual de Artes de Singapura. Vejam as fotos num instante aqui, e digam de qual gostaram mais!

Shall we dance?

> http://www.boston.com/bigpicture/2009/06/dance_around_the_world.html


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21 de junho de 2009

< Plastic is fantastic >

in Licht en Steiger

Velhinha...porém charmosa


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< Quote 56 >

There are only two sources of wealth in the world today: what comes from the Earth itself, and what flows from the human mind. We can only sustain the former by making better use of the latter – and the SEED Foundation, in its own small but significant way, is at the heart of that process.
The Foundation is already planted; now it just needs to flourish!


_ Jonathon Porritt
Chairman, UK Sustainable Development Commission




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< O poder do psicadélico >
















Don't point at my legs


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< Espreito por uma porta encostada >

Há já algum tempo que não espreitava por uma porta. Quer dizer, espreitar até espreito, que isto da curiosidade bloggiana é mesmo um vício. Só não tenho é deixado essa porta aberta.

Mas acontece que hoje tive uma epifania (que palavra tão engraçada). Então não é que o autor do blogue O alfaiate lisboeta, que acompanho com alguma regularidade desde há uns meses a esta parta, é um rapaz que conheço de vista há muito tempo, das noites do LUX.

Bem, de qualquer maneira, o blogue, um arquivo de tendências ao jeito do famosíssimo The Sartorialist, é um testemunho impecável daquilo que se passa nas ruas e vielas da nossa cidade.

Para quem ainda acha que as mulheres portuguesas têm buço e que os homens são todos tipo Tony Ramos, o melhor mesmo é espreitarem aqui.

> http://oalfaiatelisboeta.blogspot.com/


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15 de junho de 2009

< I'm your super hero >





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< When I looked into the mirror I saw a garden >

Ou

como ganhar concursos...


Nos últimos tempos temos participado em alguns concursos. De resto, temos feito isso desde que existimos. Mas se ao início, por sorte ou qualquer outro factor, que nos escapa ainda conseguimos ficar classificados em alguns, recentemente temos perdido invariavelmente.

Podemos apontar montes de culpados, ou dizer que os concursos estão viciados logo à partida, ou qualquer outra coisa. É verdade. Mas mesmo ficando tristes e desconsolados, podemos ficar a saber que, noutras partes do mundo, existem equipas que conseguem ganhá-los com propostas inovadoras e, para variar, com algum interesse.

Foi o que aconteceu à parceria entre o Estúdio WEAVE, londrino, e o atelier de arquitectura paisagista MESH, ao ganharem o concurso para o Pennine Lancashire Squared, um parque público no centro de Blackburn.

Em conjunto com um ilustrador, as equipas desenvolveram um projecto para o parque, comunicando-o sob o ponto de vista de um rapaz que, ao descobrir um pequeno espelho, começa a ver uma realidade paralela.

Bem, além de reconhecerem qualidades inerentes ao espaço de uma forma bastante empírica, as equipas conseguiram expor o projecto de forma passível de ser entendida por todos. E pela coragem na procura de formas novas de fazer arquitectura, mereceram, sem dúvida, ser premiados.

Se ficaram interessados na história, vejam aqui a versão completa:

>
http://www.bustler.net/















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< Waka chan >

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< With this hot weather >


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< Green is the new diamond >






























































Growing Jewelry

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8 de junho de 2009

< Quote 55 >

Nada vive mais distante da natureza do que o Dubai.
Mas nada precisa mais dela do que o Dubai.

_Documentário Home - O mundo é a nossa casa


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7 de junho de 2009

< Para a próxima aproveito e caso-me logo >

Tudo começou um destes dias, quando, subitamente, me apercebi que o meu BI estava caducado. O meu pensamento foi logo “Fod…..!”, antevendo uma série infernal de burocracias. Mas, ao que parecia, agora a coisa era mais simples. Teria apenas de ir ao Registo da Conservatória de Oeiras, aqui bem pertinho de casa, para fazer o meu Cartão do Cidadão (ex-Cartão Único, pelo óbvio diminutivo que daí resultaria). A outra hipótese seria ir para as filas de uma Loja do Cidadão, hipótese que estava, sem dúvida, excluída.

Apesar de a Conservatória abrir só às 9h, tinham-me dito que a fila começava às 8h, já que só distribuíam 35 senhas por dia. Fiquei com a senha número 28, nada mau!

Às 9h15, depois do cigarrinho da praxe daquelas senhoras, estava na hora de enfrentar o dia. Começaram a chamada, em tom monocórdico: “Númeroooooooo 1”. E lá foi andando. Tentando estimar, mais ou menos, o tempo que demoraria a chegar à minha senha, e juntando a isso o sono que tinha, achei que tinha tempo para ir tomar um café rapidinho.

Claro que, quando lá cheguei, já estavam a chamar o número 30. Não percebo porquê, mas nestas coisas, sempre que temos qualquer coisa para fazer, as senhas andam muito mais depressa do que queremos. Por sorte a tolerância era de dois números, pelo que ainda consegui fazer o primeiro dos passos: assinatura, digitalização dos polegares e fotografia. Sim, agora é tudo na mesma máquina!

E depois voltou a espera. Meia hora, uma hora, duas horas. Não sei bem quanto tempo lá fiquei à espera que me voltassem a chamar. Sei que, enquanto lá estive, assisti a dois casamentos, um dos quais entre um septagenário e uma beldade eslava, e um divórcio. Pelo meio, uma bebé ganhou o estranho nome de Irisia, ganhámos mais um cidadão português e um idoso sentiu-se mal por causa de uma certidão..ou terá sido do calor insuportável e do cheiro a refogado logo pela manhã? Tudo isto era, aparentemente, mais fácil do que fazer o CC.

Finalmente consegui encontrar um lugar para me sentar. Estava estafado. Abri a revista que levava e embrenhei-me a ler. A certa altura, estando eu a ler um artigo intitulado “Somos todos europeus” (que apropriado), quando a senha 19 é chamada “Senha 19…Senhaaaa 19….Seeeeeennnhhaaaaaaa 19!”...nada. Depois de praguejar contra as pessoas que a faziam perder o seu precioso tempo, a senhora do chamamento divino passou directamente para 23. Foi aí a senhora que a senha 20 e os irmãos do 21 e 22 começaram a reclamar. O problema era do sistema informático.

Já não tinha paciência para ler. Entrei num estado de dormência que só me deixava olhar fixamente para quem estivesse no meu raio de alcance. Ouvi a voz de um miúdo, que, do alto dos seus 4/5 anos, e assoberbado por dúvidas existenciais, perguntava:

- Pai o zero existe?
- Existe sim, filho.
- E quanto é?
- O zero é nada, filho.
- Então se não é nada, não existe pois não?

Aí o pai desistiu e virou-se para a idosa do lado, resignado: “Logo tinha de me calhar um filho matemático!”

Lá consegui finalmente fazer o meu novo cartão que só estará pronto daqui a um mês, altura em que terei de aqui voltar para enfrentar uma nova fila.

Mal posso esperar. Acho que vou aproveitar e casar-me logo.


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< O nosso legado para a próxima geração >

photo by Lok Jansen


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< Your body is a Liliputland >





















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