8 de junho de 2007

Gestão da água no caminho da paz

Não venho falar de dados estatísticos. Os números são de facto alarmantes, mas a maior parte de nós já os viu.

A gestão territorial da água é, no âmbito do mediação de conflitos territoriais, uma das formas de se evitar a guerra. A ideia não é totalmente nova, e, desta vez, quem o diz é o painel intergovernamental sobre as alterações climáticas (IPCC).

Pela água comunidades inteiras percorrem milhares de quilómetros. Pela água mudam-se cidades inteiras de lugar. Pela água uma região esquecida por ser colocada na vanguarda turística de uma país.

A escassez de água está invariavelmente na base de muitos confrontos, alguns deles muito violentos. Basta verificar o que se está a passar neste momento na região envolvente ao lago do Chade, ou dos conflitos constantes entre pastores nómadas e camponeses sedentários, também em África, para confirmar isto.

O que o IPCC vem defender é que uma gestão eficiente da água pode antecipar-se a esses conflitos, fomentado o diálogo entre aqueles que potencialmente seriam rivais.

Esta gestão passa evidentemente por pactos políticos entre as partes interessadas, os quais não podem deixar de ser sempre sustentados pelas melhores soluções técnicas. O correcto desenho e dimensionamento de barragens; a coexistência de povos, sustentada por uma mesma via fluvial, ou ainda as mais variadas formas de aproveitamento hídrico, contam-se entre as mais bem sucedidas na História.

E, tal como em todos os outros recursos, à gestão estratégica da água, a nível nacional e regional, deve corresponder sempre uma gestão práctica local. Investimento estatal em sistemas de captação de água, sistemas de recolecção de águas pluviais, regulamentos fortes relativamente à sua gestão, são exemplos concretos que, um pouco por toda a parte começam a surgir. Aglomerados urbanos bem adaptados às condições climatéricas, sobrevivem mais tempo.

A água é a fonte de vida humana, o que a coloca tanto no centro de conflitos violentos, como no conjunto de elementos que aglutinam diferentes povos.

A posição mundial relativamente à gestão da água é aquilo que verdadeiramente considero realmente curioso. A maior parte das vezes queixamo-nos da sua falta. Mas quando chove um pouco demais, falamos logo dos prejuízos das cheias. O que acontece é uma total falta de estratégia antecipada no sentido de a aproveitar ao máximo toda e qualquer gota a que conseguimos aceder. E nunca tentarmos parar o seu ciclo.

Numa época em que a tecnologia nos torna capazes de, com mais ou menos alarmismo, antever um futuro cada vez menos abundante em recursos hídricos, cabe-nos a nós, enquanto geração, entender a importância da água na sociedade, na economia e na política. Devemos começar a considerar-nos como parte de um sistema natural, muito mais importante que as nossas ambições individuais e falar da água como um dos principais factores do ordenamento do território.

Beber para não morrer. Gerir para não secar.

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