Tudo começou um destes dias, quando, subitamente, me apercebi que o meu BI estava caducado. O meu pensamento foi logo “Fod…..!”, antevendo uma série infernal de burocracias. Mas, ao que parecia, agora a coisa era mais simples. Teria apenas de ir ao Registo da Conservatória de Oeiras, aqui bem pertinho de casa, para fazer o meu Cartão do Cidadão (ex-Cartão Único, pelo óbvio diminutivo que daí resultaria). A outra hipótese seria ir para as filas de uma Loja do Cidadão, hipótese que estava, sem dúvida, excluída.
Apesar de a Conservatória abrir só às 9h, tinham-me dito que a fila começava às 8h, já que só distribuíam 35 senhas por dia. Fiquei com a senha número 28, nada mau!
Às 9h15, depois do cigarrinho da praxe daquelas senhoras, estava na hora de enfrentar o dia. Começaram a chamada, em tom monocórdico: “Númeroooooooo 1”. E lá foi andando. Tentando estimar, mais ou menos, o tempo que demoraria a chegar à minha senha, e juntando a isso o sono que tinha, achei que tinha tempo para ir tomar um café rapidinho.
Claro que, quando lá cheguei, já estavam a chamar o número 30. Não percebo porquê, mas nestas coisas, sempre que temos qualquer coisa para fazer, as senhas andam muito mais depressa do que queremos. Por sorte a tolerância era de dois números, pelo que ainda consegui fazer o primeiro dos passos: assinatura, digitalização dos polegares e fotografia. Sim, agora é tudo na mesma máquina!
E depois voltou a espera. Meia hora, uma hora, duas horas. Não sei bem quanto tempo lá fiquei à espera que me voltassem a chamar. Sei que, enquanto lá estive, assisti a dois casamentos, um dos quais entre um septagenário e uma beldade eslava, e um divórcio. Pelo meio, uma bebé ganhou o estranho nome de Irisia, ganhámos mais um cidadão português e um idoso sentiu-se mal por causa de uma certidão..ou terá sido do calor insuportável e do cheiro a refogado logo pela manhã? Tudo isto era, aparentemente, mais fácil do que fazer o CC.
Finalmente consegui encontrar um lugar para me sentar. Estava estafado. Abri a revista que levava e embrenhei-me a ler. A certa altura, estando eu a ler um artigo intitulado “Somos todos europeus” (que apropriado), quando a senha 19 é chamada “Senha 19…Senhaaaa 19….Seeeeeennnhhaaaaaaa 19!”...nada. Depois de praguejar contra as pessoas que a faziam perder o seu precioso tempo, a senhora do chamamento divino passou directamente para 23. Foi aí a senhora que a senha 20 e os irmãos do 21 e 22 começaram a reclamar. O problema era do sistema informático.
Já não tinha paciência para ler. Entrei num estado de dormência que só me deixava olhar fixamente para quem estivesse no meu raio de alcance. Ouvi a voz de um miúdo, que, do alto dos seus 4/5 anos, e assoberbado por dúvidas existenciais, perguntava:
- Pai o zero existe?
- Existe sim, filho.
- E quanto é?
- O zero é nada, filho.
- Então se não é nada, não existe pois não?
Aí o pai desistiu e virou-se para a idosa do lado, resignado: “Logo tinha de me calhar um filho matemático!”
Lá consegui finalmente fazer o meu novo cartão que só estará pronto daqui a um mês, altura em que terei de aqui voltar para enfrentar uma nova fila.
Mal posso esperar. Acho que vou aproveitar e casar-me logo.
Apesar de a Conservatória abrir só às 9h, tinham-me dito que a fila começava às 8h, já que só distribuíam 35 senhas por dia. Fiquei com a senha número 28, nada mau!
Às 9h15, depois do cigarrinho da praxe daquelas senhoras, estava na hora de enfrentar o dia. Começaram a chamada, em tom monocórdico: “Númeroooooooo 1”. E lá foi andando. Tentando estimar, mais ou menos, o tempo que demoraria a chegar à minha senha, e juntando a isso o sono que tinha, achei que tinha tempo para ir tomar um café rapidinho.
Claro que, quando lá cheguei, já estavam a chamar o número 30. Não percebo porquê, mas nestas coisas, sempre que temos qualquer coisa para fazer, as senhas andam muito mais depressa do que queremos. Por sorte a tolerância era de dois números, pelo que ainda consegui fazer o primeiro dos passos: assinatura, digitalização dos polegares e fotografia. Sim, agora é tudo na mesma máquina!
E depois voltou a espera. Meia hora, uma hora, duas horas. Não sei bem quanto tempo lá fiquei à espera que me voltassem a chamar. Sei que, enquanto lá estive, assisti a dois casamentos, um dos quais entre um septagenário e uma beldade eslava, e um divórcio. Pelo meio, uma bebé ganhou o estranho nome de Irisia, ganhámos mais um cidadão português e um idoso sentiu-se mal por causa de uma certidão..ou terá sido do calor insuportável e do cheiro a refogado logo pela manhã? Tudo isto era, aparentemente, mais fácil do que fazer o CC.
Finalmente consegui encontrar um lugar para me sentar. Estava estafado. Abri a revista que levava e embrenhei-me a ler. A certa altura, estando eu a ler um artigo intitulado “Somos todos europeus” (que apropriado), quando a senha 19 é chamada “Senha 19…Senhaaaa 19….Seeeeeennnhhaaaaaaa 19!”...nada. Depois de praguejar contra as pessoas que a faziam perder o seu precioso tempo, a senhora do chamamento divino passou directamente para 23. Foi aí a senhora que a senha 20 e os irmãos do 21 e 22 começaram a reclamar. O problema era do sistema informático.
Já não tinha paciência para ler. Entrei num estado de dormência que só me deixava olhar fixamente para quem estivesse no meu raio de alcance. Ouvi a voz de um miúdo, que, do alto dos seus 4/5 anos, e assoberbado por dúvidas existenciais, perguntava:
- Pai o zero existe?
- Existe sim, filho.
- E quanto é?
- O zero é nada, filho.
- Então se não é nada, não existe pois não?
Aí o pai desistiu e virou-se para a idosa do lado, resignado: “Logo tinha de me calhar um filho matemático!”
Lá consegui finalmente fazer o meu novo cartão que só estará pronto daqui a um mês, altura em que terei de aqui voltar para enfrentar uma nova fila.
Mal posso esperar. Acho que vou aproveitar e casar-me logo.
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