31 de maio de 2007

Vazios cheios de ideias

Inaugura hoje a Trienal de Arquitectura de Lisboa. Durante dois meses, a capital mostra o que se passa no mundo da arquitectura e do planeamento e ordenamento do território.

O tema é dedicado aos ‘vazios urbanos’. No epicentro do furacão OTA, que, a provocar os danos previstos, tornará o aeroporto da Portela no maior vazio lisboeta, parece-me que o tema não podia surgir mais adequado.

Mas é enquanto arquitecto paisagista, que o tema escolhido me suscita maior interesse. Na realidade o facto de o ‘vazio urbano’ surgir no centro da reflexão, alerta para a importância da dualidade entre a Arquitectura e a Arquitectura Paisagista (AP).

A AP é uma das actividades profissionais com maior capacidade para entender o carácter urbano do vazio nas diferentes escalas urbanas e a mais bem preparada para o analisar no nível mais abrangente da Paisagem. Convém aqui diferenciar os vazios estruturados e estruturantes da malha urbana e pensados na cidade como tal, daqueles que vão surgindo na cidade simplesmente por ninguém os utilizar. Os primeiros devem ser estudados quanto mais não seja pela força que demonstram em manter-se e os segundos como possibilidades tremendas para serem apropriados pela cidade.

O vazio urbano, seja ele público ou privado, enfrente hoje, com de resto sempre enfrentou, graves problemas de afirmação. A cidade, ao serviço da ambição especulativa, quer engoli-lo, mas a sua existência é fulcral para a vivência humana.

O facto da organização deste mega-evento de Arquitectura sugerir à comunidade urbana o estudo do vazio urbano, foca o reconhecimento das possibilidades quase infinitas que este oferece, em termos de construção, de reconstrução, de preservação ou de apropriação. Basta lembrar que o espaço público na cidade é vazio por definição.

Smithson disse que a ‘vida tem lugar no vazio’. O vazio na cidade deve ser entendido como vazio em termos de construção, mas cheio de vida, de ideias, e outros campos não materiais da realidade. Só assim chegaremos a soluções válidas para as cidades contemporâneas.

Acredito que da trienal retirar-se-ão importantes lições, e cruzar-se-ão diferentes perspectivas. Saúdo os organizadores pelo tema e pela vontade de chamar todos os profissionais a participar.


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