A visão dos Designers enquanto super-heróis é megalómana e egocêntrica.
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Português
Dentro do Design de Comunicação sinto-me mais confortável quando desenvolvo materiais impressos por dominar todas as respectivas fases de projecto. Em relação a aplicações para a web, por exemplo, dependo sempre da prestação de serviços de programação por terceiros, o que torna o processo de trabalho mais complexo. Independentemente da natureza da proposta (impressa ou virtual) prefiro desenvolver trabalho para projectos artísticos e instituições culturais essencialmente por duas razões: em primeiro lugar, por conseguir desenvolver soluções mais interessantes do ponto de vista conceptual devido ao público-alvo deste tipo de iniciativas ser mais sensível a um tipo de propostas menos comuns; em segundo lugar, por obedecer a uma ideologia pessoal de evitar trabalhar para entidades cuja actividade é essencialmente comercial. Sem dúvida que são sempre importantes novos desafios e cada novo trabalho acaba por o ser, num grau maior ou menor, pois cada nova proposta responde a uma problemática completamente distinta.
02. De todos os trabalhos que te passaram pelas mãos, peço-te que nomeies um que te tenha marcado particularmente e a razão para tal ter acontecido.
Em 2005 fui contactado pelo coreógrafo Miguel Pereira a fim de desenvolver a campanha de divulgação da peça de dança contemporânea que ele, na altura, se encontrava a desenvolver. Assisti a alguns ensaios meses antes da sua estreia e em palco vi seis corpos masculinos que se vestiam e despiam constantemente. Por vezes o nosso olhar "voyeur" desviava-se da figura humana para se concentrar no jogo multicolorido das várias peças de roupa diferentes que "dançavam" ao longo da coreografia. Aos meus olhos elas pareciam ser o elemento dinamizador de maior importância na peça e que, em determinados momentos, tiravam protagonismo aos próprios intérpretes. Foi durante um dos ensaios que me surgiu a ideia de produzir posters em tecido recorrendo ao uso de retalhos impressos através de
serigrafia. Desta forma foram usados cerca de 50 padrões diferentes que levavam uma espécie de "carimbo" serigráfico recorrendo apenas a uma cor. Esta ideia de reciclagem e de contenção orçamental ia de encontro ao valor disponível para a campanha de divulgação que era muito reduzido. Para além disso, respondia ao pedido do coreógrafo para que o poster não fosse apenas um mero suporte informativo mas que, de alguma maneira, conseguisse ser uma peça fundamental do espectáculo. Também penso ter conseguido traduzir as múltiplas cores presentes na peça que um poster impresso apenas a uma cor não conseguiria transmitir. Apesar disso, foi um dos únicos trabalhos que senti, na fase da sua produção, que o resultado poderia falhar redondamente uma vez os posters começassem a ser expostos publicamente. Esta sensação de risco foi totalmente partilhada pelo coreógrafo que deu a última palavra sobre o trabalho antes de avançarmos. Apesar do trabalho ter tido uma muito boa aceitação da parte do público, para além de ter sido a proposta vencedora do concurso Jovens Criadores na categoria de Design Gráfico nesse ano, o facto de sentir que estava a trabalhar para alguém que reconhece que é importante tomar riscos, foi o aspecto mais positivo que guardo desse trabalho.
03. Assisti a uma apresentação de um trabalho teu na última noite do Pecha Kucha. Disseste na altura que tinhas um grande interesse pela política internacional e que isso te tinha levado ao desenvolvimento do trabalho intitulado “Uma Terra Sem Gente para Gente Sem Terra”. Podes descrevê-lo resumidamente? Qual foi a mensagem que quiseste passar?
A exposição "Uma Terra Sem Gente, Para Gente Sem Terra" é composta por diversos posters de grande formato, com desenhos de contorno a preto-e-branco, que convidam os visitantes a preencher de cor usando os diversos lápis dispostos para o efeito. Os posters mostram diversos mapas e gráficos, assim como desenhos realizados a partir de fotografias que recolhi numa viagem de um mês que fiz à Palestina em 2006 em conjunto com um amigo meu inglês. Na exposição tento traduzir em narrativas as tensões sociais que fazem parte do quotidiano daquela região, propondo uma nova abordagem de pensamento sobre o conflito israelo-árabe, assim como um olhar crítico mas também irónico que poderá mostrar o absurdo da situação presente. Sou da opinião que, apesar de haver um discurso global sobre a Palestina, poucas pessoas conseguem ver além das imagens e títulos chocantes gerados pelos media e compreender os princípios básicos do conflito. A minha viagem à Palestina, onde desenvolvi actividades artísticas para crianças refugiadas palestinianas em regime de voluntariado, fez com que me apercebesse de pequenos pormenores da vida quotidiana que não chegam até nós pelo simples facto de não serem suficientemente mediáticos. Para mim a realidade foi mais chocante na perspectiva destas pequenas coisas do dia-a-dia e foram estes factos que procurei divulgar através da exposição. Apesar da ideia original e dos desenhos serem meus, a exposição é complementada com uma forte componente textual escrita por esse meu amigo com quem partilhei a viagem, o Adam Kershaw.
04. Sendo o Design uma forma de comunicação, como avalias a sua importância no cenário da política internacional? Poderá o Design ajudar a formar uma consciência do mundo contemporâneo?
Há muito tempo que se fala do Design como uma disciplina para mudar ou mesmo salvar o Mundo. Não sou subscritor de muitas opiniões que defendem o Design como "a" disciplina que irá mudar o Mundo. Esta visão do Design, em que os Designers seriam uma espécie de super-heróis, é muito megalómana e egocêntrica. Para mim o Design enquanto agente de mudança só faz sentido quando aliado a outras disciplinas, tais como a Política, a Sociologia, a Antropologia, a Educação, a Cultura, entre muitas, muitas outras. Só assim poderá funcionar como catalizador cultural e ter o impacto desejado na sociedade. Desta forma e enquanto disciplina projectual, o Design deve ser aplicado em sistemas que mudem a nossa percepção do ambiente que nos rodeia permitindo uma maior troca de valores que não necessariamente comerciais mas essencialmente culturais.
05. Em 1494, Portugal e Espanha dividiram o mundo. E em 1945 os EUA e a Rússia também o dividiram. Quem o divide hoje?
Apesar de não acreditar completamente no designado "choque de religiões", creio que nos dias de hoje há uma tentativa em dividir o mundo entre sociedades de tradição judaico-cristãs e sociedades de tradição muçulmana. Digo "tradição" pois apesar de, por exemplo, Portugal ser considerado uma sociedade secular, a verdade é que ainda se sente a presença muito forte de valores religiosos na nossa maneira de agir e de pensar mesmo naqueles que se consideram agnósticos ou mesmo ateus. Assistimos, portanto, a uma suposta bipolarização do mundo baseada em confissões religiosas que, paradoxalmente, têm todas a mesma origem comum (apesar de muitos afirmarem que não poderiam ser mais distintas). Tenho viajado por países onde a confissão religiosa da população é esmagadoramente muçulmana e por lá tenho tido imensas conversas sobre questões políticas e sociais que serviriam para derrubar imensos preconceitos de pessoas ocidentais sobre esses países ou culturas. O "muro" que separa estas supostamente distintas sociedades é cimentado pela nossa própria ignorância, pelo nosso desconhecimento em relação ao outro, em relação àquele que é diferente de nós.
06. Sei que também te dedicas ao mundo da Música. É um hobby ou uma actividade paralela ao Design?
A minha actividade como DJ foi sempre vista por mim como uma actividade paralela à de Designer, embora com uma importância relativamente menor. Trata-se de uma actividade que iniciei em 1995 e que me acompanha desde os meus tempos de estudante. Apesar de sentir imenso prazer nesta actividade, recentemente ela foi remetida para um segundo plano a partir do momento em que comecei a leccionar a disciplina de Design nos cursos de Design e Multimédia da Universidade de Coimbra. Apesar de continuar a actuar com DJ, embora de uma forma mais pontual, ao estabelecer novas prioridades na minha actividade profissional a música deixou de ter a importância que há alguns anos chegou a ocupar na minha vida pessoal.
07. Entendes a Música também como uma forma de comunicares as tuas ideias? Em caso afirmativo, que mensagem(s) tentas dar a quem te ouve?
Ao contrário da minha actividade como Designer (e agora também como docente), as minhas actuações como DJ são realizadas de uma forma espontânea e despreocupada. Não há nenhuma mensagem por detrás dos meus "sets". Espero apenas conseguir proporcionar uma noite divertida a quem me ouve.
08. Algum conselho que queiras deixar aos estudantes de Design que estejam a preparar a sua difícil entrada no mercado profissional?
Antes de nos definirmos pela nossa actividade profissional, neste caso a de Designer, temos de nos definir como pessoas, como indivíduos. E como indivíduos temos de criar o nosso conjunto de valores morais e ideológicos. Alguém que não tenha interesse particular por questões
sociais, ou por política, religião, ou muitos outros temas, como pode ser bom profissional? Se a nossa consciência for tão flexível ou alienada, como se pode ser forte na prática do Design? Atenção que não estou a defender que é preciso ser activo política ou religiosamente. A título de exemplo, e apesar de ser ateu, reconheço que é preciso conhecer as religiões por dentro para melhor compreendermos a sociedade em que vivemos devido à sua incontornável influência. O mesmo se passa com muitos outros sistemas ideológicos ou de valor. Conhecer o mundo em que vivemos nas suas mais diversas formas e não apenas o "mundinho" que nos rodeia, faz de nós melhores indivíduos e, consequentemente, melhores profissionais. Conhecimento é, portanto, a palavra de ordem.
09. Onde te imaginas daqui a 10 anos?
Definitivamente a vida é cheia de surpresas e há dez anos atrás não me imaginava como sou hoje. Provavelmente saberia que iria ser designer, uma vez que os meus estudos estavam a ser realizados nessa direcção. Mas refiro-me mais à minha actual maneira de pensar e de agir. É bem certo que daqui a uma década vou ser uma pessoa distinta e que, mesmo que agora tente, não a vou conseguir descrever. Simplesmente é uma pergunta que nunca faço a mim mesmo.
01. Comecemos por falar da tua experiência profissional. És formado em Design de Comunicação e o teu trabalho tem-te levado a campos muito distintos. Em que tipo de trabalho te sentes realmente confortável? Esse conforto é importante ou procuras sempre novos desafios?
Dentro do Design de Comunicação sinto-me mais confortável quando desenvolvo materiais impressos por dominar todas as respectivas fases de projecto. Em relação a aplicações para a web, por exemplo, dependo sempre da prestação de serviços de programação por terceiros, o que torna o processo de trabalho mais complexo. Independentemente da natureza da proposta (impressa ou virtual) prefiro desenvolver trabalho para projectos artísticos e instituições culturais essencialmente por duas razões: em primeiro lugar, por conseguir desenvolver soluções mais interessantes do ponto de vista conceptual devido ao público-alvo deste tipo de iniciativas ser mais sensível a um tipo de propostas menos comuns; em segundo lugar, por obedecer a uma ideologia pessoal de evitar trabalhar para entidades cuja actividade é essencialmente comercial. Sem dúvida que são sempre importantes novos desafios e cada novo trabalho acaba por o ser, num grau maior ou menor, pois cada nova proposta responde a uma problemática completamente distinta.
02. De todos os trabalhos que te passaram pelas mãos, peço-te que nomeies um que te tenha marcado particularmente e a razão para tal ter acontecido.
Em 2005 fui contactado pelo coreógrafo Miguel Pereira a fim de desenvolver a campanha de divulgação da peça de dança contemporânea que ele, na altura, se encontrava a desenvolver. Assisti a alguns ensaios meses antes da sua estreia e em palco vi seis corpos masculinos que se vestiam e despiam constantemente. Por vezes o nosso olhar "voyeur" desviava-se da figura humana para se concentrar no jogo multicolorido das várias peças de roupa diferentes que "dançavam" ao longo da coreografia. Aos meus olhos elas pareciam ser o elemento dinamizador de maior importância na peça e que, em determinados momentos, tiravam protagonismo aos próprios intérpretes. Foi durante um dos ensaios que me surgiu a ideia de produzir posters em tecido recorrendo ao uso de retalhos impressos através de
serigrafia. Desta forma foram usados cerca de 50 padrões diferentes que levavam uma espécie de "carimbo" serigráfico recorrendo apenas a uma cor. Esta ideia de reciclagem e de contenção orçamental ia de encontro ao valor disponível para a campanha de divulgação que era muito reduzido. Para além disso, respondia ao pedido do coreógrafo para que o poster não fosse apenas um mero suporte informativo mas que, de alguma maneira, conseguisse ser uma peça fundamental do espectáculo. Também penso ter conseguido traduzir as múltiplas cores presentes na peça que um poster impresso apenas a uma cor não conseguiria transmitir. Apesar disso, foi um dos únicos trabalhos que senti, na fase da sua produção, que o resultado poderia falhar redondamente uma vez os posters começassem a ser expostos publicamente. Esta sensação de risco foi totalmente partilhada pelo coreógrafo que deu a última palavra sobre o trabalho antes de avançarmos. Apesar do trabalho ter tido uma muito boa aceitação da parte do público, para além de ter sido a proposta vencedora do concurso Jovens Criadores na categoria de Design Gráfico nesse ano, o facto de sentir que estava a trabalhar para alguém que reconhece que é importante tomar riscos, foi o aspecto mais positivo que guardo desse trabalho.
03. Assisti a uma apresentação de um trabalho teu na última noite do Pecha Kucha. Disseste na altura que tinhas um grande interesse pela política internacional e que isso te tinha levado ao desenvolvimento do trabalho intitulado “Uma Terra Sem Gente para Gente Sem Terra”. Podes descrevê-lo resumidamente? Qual foi a mensagem que quiseste passar?
A exposição "Uma Terra Sem Gente, Para Gente Sem Terra" é composta por diversos posters de grande formato, com desenhos de contorno a preto-e-branco, que convidam os visitantes a preencher de cor usando os diversos lápis dispostos para o efeito. Os posters mostram diversos mapas e gráficos, assim como desenhos realizados a partir de fotografias que recolhi numa viagem de um mês que fiz à Palestina em 2006 em conjunto com um amigo meu inglês. Na exposição tento traduzir em narrativas as tensões sociais que fazem parte do quotidiano daquela região, propondo uma nova abordagem de pensamento sobre o conflito israelo-árabe, assim como um olhar crítico mas também irónico que poderá mostrar o absurdo da situação presente. Sou da opinião que, apesar de haver um discurso global sobre a Palestina, poucas pessoas conseguem ver além das imagens e títulos chocantes gerados pelos media e compreender os princípios básicos do conflito. A minha viagem à Palestina, onde desenvolvi actividades artísticas para crianças refugiadas palestinianas em regime de voluntariado, fez com que me apercebesse de pequenos pormenores da vida quotidiana que não chegam até nós pelo simples facto de não serem suficientemente mediáticos. Para mim a realidade foi mais chocante na perspectiva destas pequenas coisas do dia-a-dia e foram estes factos que procurei divulgar através da exposição. Apesar da ideia original e dos desenhos serem meus, a exposição é complementada com uma forte componente textual escrita por esse meu amigo com quem partilhei a viagem, o Adam Kershaw.
04. Sendo o Design uma forma de comunicação, como avalias a sua importância no cenário da política internacional? Poderá o Design ajudar a formar uma consciência do mundo contemporâneo?
Há muito tempo que se fala do Design como uma disciplina para mudar ou mesmo salvar o Mundo. Não sou subscritor de muitas opiniões que defendem o Design como "a" disciplina que irá mudar o Mundo. Esta visão do Design, em que os Designers seriam uma espécie de super-heróis, é muito megalómana e egocêntrica. Para mim o Design enquanto agente de mudança só faz sentido quando aliado a outras disciplinas, tais como a Política, a Sociologia, a Antropologia, a Educação, a Cultura, entre muitas, muitas outras. Só assim poderá funcionar como catalizador cultural e ter o impacto desejado na sociedade. Desta forma e enquanto disciplina projectual, o Design deve ser aplicado em sistemas que mudem a nossa percepção do ambiente que nos rodeia permitindo uma maior troca de valores que não necessariamente comerciais mas essencialmente culturais.
05. Em 1494, Portugal e Espanha dividiram o mundo. E em 1945 os EUA e a Rússia também o dividiram. Quem o divide hoje?
Apesar de não acreditar completamente no designado "choque de religiões", creio que nos dias de hoje há uma tentativa em dividir o mundo entre sociedades de tradição judaico-cristãs e sociedades de tradição muçulmana. Digo "tradição" pois apesar de, por exemplo, Portugal ser considerado uma sociedade secular, a verdade é que ainda se sente a presença muito forte de valores religiosos na nossa maneira de agir e de pensar mesmo naqueles que se consideram agnósticos ou mesmo ateus. Assistimos, portanto, a uma suposta bipolarização do mundo baseada em confissões religiosas que, paradoxalmente, têm todas a mesma origem comum (apesar de muitos afirmarem que não poderiam ser mais distintas). Tenho viajado por países onde a confissão religiosa da população é esmagadoramente muçulmana e por lá tenho tido imensas conversas sobre questões políticas e sociais que serviriam para derrubar imensos preconceitos de pessoas ocidentais sobre esses países ou culturas. O "muro" que separa estas supostamente distintas sociedades é cimentado pela nossa própria ignorância, pelo nosso desconhecimento em relação ao outro, em relação àquele que é diferente de nós.
06. Sei que também te dedicas ao mundo da Música. É um hobby ou uma actividade paralela ao Design?
A minha actividade como DJ foi sempre vista por mim como uma actividade paralela à de Designer, embora com uma importância relativamente menor. Trata-se de uma actividade que iniciei em 1995 e que me acompanha desde os meus tempos de estudante. Apesar de sentir imenso prazer nesta actividade, recentemente ela foi remetida para um segundo plano a partir do momento em que comecei a leccionar a disciplina de Design nos cursos de Design e Multimédia da Universidade de Coimbra. Apesar de continuar a actuar com DJ, embora de uma forma mais pontual, ao estabelecer novas prioridades na minha actividade profissional a música deixou de ter a importância que há alguns anos chegou a ocupar na minha vida pessoal.
07. Entendes a Música também como uma forma de comunicares as tuas ideias? Em caso afirmativo, que mensagem(s) tentas dar a quem te ouve?
Ao contrário da minha actividade como Designer (e agora também como docente), as minhas actuações como DJ são realizadas de uma forma espontânea e despreocupada. Não há nenhuma mensagem por detrás dos meus "sets". Espero apenas conseguir proporcionar uma noite divertida a quem me ouve.
08. Algum conselho que queiras deixar aos estudantes de Design que estejam a preparar a sua difícil entrada no mercado profissional?
Antes de nos definirmos pela nossa actividade profissional, neste caso a de Designer, temos de nos definir como pessoas, como indivíduos. E como indivíduos temos de criar o nosso conjunto de valores morais e ideológicos. Alguém que não tenha interesse particular por questões
sociais, ou por política, religião, ou muitos outros temas, como pode ser bom profissional? Se a nossa consciência for tão flexível ou alienada, como se pode ser forte na prática do Design? Atenção que não estou a defender que é preciso ser activo política ou religiosamente. A título de exemplo, e apesar de ser ateu, reconheço que é preciso conhecer as religiões por dentro para melhor compreendermos a sociedade em que vivemos devido à sua incontornável influência. O mesmo se passa com muitos outros sistemas ideológicos ou de valor. Conhecer o mundo em que vivemos nas suas mais diversas formas e não apenas o "mundinho" que nos rodeia, faz de nós melhores indivíduos e, consequentemente, melhores profissionais. Conhecimento é, portanto, a palavra de ordem.
09. Onde te imaginas daqui a 10 anos?
Definitivamente a vida é cheia de surpresas e há dez anos atrás não me imaginava como sou hoje. Provavelmente saberia que iria ser designer, uma vez que os meus estudos estavam a ser realizados nessa direcção. Mas refiro-me mais à minha actual maneira de pensar e de agir. É bem certo que daqui a uma década vou ser uma pessoa distinta e que, mesmo que agora tente, não a vou conseguir descrever. Simplesmente é uma pergunta que nunca faço a mim mesmo.
Qual é a sua opinião?
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The vision in which Designers are superheroes is quite megalomaniac and egocentric.
English
01. Let’s start by talking about your professional experience. You’ve studied Communication Design and your work has taken you to a variety of fields of expertise. What kind of work are you the most comfortable with? Is that comfort important or do you constantly seek new challenges?
Within Communication Design I feel more comfortable when I develop printed material because I have a great degree of control over every one of the project’s phases. Regarding web applications, for example, I always have to rely on programming services provided by others, which turns the whole working progress more complex. Regardless of the offer’s nature (printed or virtual) I prefer to develop work related with artistic projects and cultural institutions, mainly because of the two following reasons: firstly, because I can develop more interesting solutions, from a conceptual standpoint, due to the fact of the target of this kind of initiative being more sensitive to less mainstream proposals; secondly, because I follow a personal creed which is that of avoiding to work for entities solely based on commercial activity. New jobs are always undoubtedly important new challenges, in a major or minor extent, for each new proposal responds to its problem.
02. Of all the work you’ve been in contact with, I ask you to tell me of a piece that particularly moved you and the reason as to why that happened.
In 2005 I was contacted by choreographer Miguel Pereira in order to develop a campaign for the contemporary dance piece he was developing at the time. I watched a few rehearsals before the premier and I saw six male bodies that constantly dressed and undressed themselves. At times, our “voyeur” gaze would divert itself from the human form only to concentrate on the multicoloured game of the different clothing pieces that “danced” along with the choreography. To me it seemed like they were the most important element in the whole piece and that at certain moments they’d rob the dancers of their stardom. It was during one of the rehearsals that I came by the idea of producing textile based posters, relying on the use of cloth with serigraphic print. There were used about 50 different patterns that were branded with a sort of serigraphic “stamp”, using only one colour. This idea of recycling and of budget restraint met the requirements of a very low budget campaign. Furthermore, it responded to the choreographer’s request of the poster not being a mere informative surface but of also being, in a way, capable of turning itself into a fundamental piece of the show. I also believe I was able to convey the multiple colours present in the play, which a printed poster would not translate. In spite of all this, it was one of the very few assignments in which I felt that, in its production phase, the result could be that of a plundering flop when the posters started being publicly exposed. This sense of risk was also felt by the choreographer, who gave the last word regarding this project before it was released. Though it had a great level of acceptance within the audience, and aside from having been the winner of the Young Creators contest’s Graphic Design category that year, the fact that I felt that I was working for someone who recognized the importance of taking chances was the most positive aspect I retained from that project.
03. I was present at the presentation of a piece of yours at the last Pecha Kucha night. At the time you said that you had a great interest in international politics and that that had taken you to the development of something called “A Land without People for a People without a Land”. Can you succinctly describe it? What message were you attempting to convey?
The “A Land without People for a People without a Land” exhibit is comprised of a range of large format posters, with black and white contoured designs, that invite people to fill them in with colour by using the pencils made available for such action. The posters show various maps and charts, as well as drawings I made, based on pictures I took in a 2006 one month trip I made to Palestine, with an English friend. This exhibit is an attempt of mine to convey the social tensions that are a part of that region’s everyday life, thus proposing a new point of view regarding the middle-eastern conflict, as well as a critical and ironic eye that may demonstrate the absurdity of the present situation. I believe that, even though there’s a global speech on Palestine, only a few people can see beyond the shocking images and titles exposed by the media and understand the basic principles of the conflict. My trip to Palestine, where I developed artistic activities for refugee children under the form of voluntary work, made me see small details of the daily life that we’re not aware of simply because they’re not “media material”. To me reality was more shocking through the eyes of daily life and it was these facts that I sought to divulge in the exhibit. Though the original idea and designs are mine, the exhibit is strongly enriched by a textual component written by my friend with whom I embarked on such a trip, Adam Kershaw.
04. Being Design a form of communication, how would you rate its importance in international politics? Could Design help in forming a conscience of the comtemporary world?
It has long been said that Design may change or even save the World. Personally, I don’t adhere to conceptions that defend the Design will save the World by itself. This vision of Design, in which designers are portrayed as superheroes, is quite megalomaniac and egocentric. To me, Design as a bringer of change, only makes sense when partnered with other areas of expertise, such as Politics, Sociology, Anthropology, Education, Culture, among many, many others. Only then will it be able to work as a cultural catalyst and have the desired impact on society. This way, and as a project based field, Design should be applied to systems that change our perception of the environment that surrounds us, making way for a growth in the exchange of values, not necessarily commercial ones, but essentially cultural values.
05. In 1494, Portugal and Spain split the World. And in 1945 the USA and Russia also divided it. Who does so today?
Though I’m not a full fledged believer in the so called “shock of religions”, I believe that nowadays there’s an attempt to divide the world in societies with a Jewish and Christian background and in societies based in Muslim tradition. I used the word “tradition” due to, for example, despite Portugal being considered a secular society, the truth is that you can still feel the presence of very strong religious values in our way of acting or thinking, even in those who consider themselves Agnostics or Atheists. Thus, we bear witness to a supposed bipolarization of the world, based on religious confessions that, paradoxically, all have the same origin (though quite a few defend that they couldn’t differ more). I’ve travelled around countries where the population’s religious confession is overwhelmingly Muslim and there I’ve had a number of conversations regarding political and social subjects that helped a great deal in abolishing the bigotry of the western people, regarding those countries or cultures. The “wall” that separates these supposedly distinct societies is held up by our own ignorance, by our not knowing those who are different from us.
06. I know you also dedicate yourself to Music. Is it a hobby or is it something parallel to your job as a Designer?
I’ve always seen my work as a DJ as something parallel to being a Designer, though it is of relatively less importance. It’s something I started in 1995 and I’ve been doing it since I was a student. Despite it being quite a pleasurable field, it’s been put on standby since I started teaching the subject of Design in the Design and Multimedia courses at Coimbra University. Despite still performing as a DJ, even if quite sporadically, by establishing new priorities in my professional life music has lost some of the importance it had a few years ago in what concerns my personal life.
07. Do you see Music as a way to communicate your ideas? If so, what message(s) do you try to convey to your listeners?
Contrary to my activity as a Designer (and now also as a teacher), my performances as a DJ are absolutely spontaneous and relaxed. There’s no message behind my “sets”. I only hope to be able to give those who listen to my music an enjoyable night.
08. Is there any advice you’d like to give to Design students who are preparing their difficult entry into the professional world?
Before defining ourselves by our professional activity, in this case being a Designer, we have to define ourselves as persons, as individuals. And as individuals we have to create our own set of moral and ideological values. How can someone who has no particular interest in social, political, religious and other subjects be a good professional? How can we be good Designers if our conscience is overtly flexible or alienated? I’m not defending that we should all be political or religious activists. I, for example, though I am an atheist, recognize that we need to know the way the various forms of religion work in order to better understand the society we live in due to their undeniable influence. The same happens with a lot more different ideological or value systems. Knowing the world we live in, in its most diverse forms and not just the “bubble” that surrounds us, makes us better individuals and, consequently, better professionals. Knowledge is, therefore, key.
09. Where do you see yourself in ten years?
Life is definitely full of surprises and ten years ago I didn’t imagine myself as I am today. I probably knew I wanted to be a Designer, since I was studying in that direction. But I’m talking more about my current way of thinking and acting. It’s certain that in a decade I’ll be a different person and that, even if I try, I won’t be able to describe that person. It’s just a question I never ask myself.
Within Communication Design I feel more comfortable when I develop printed material because I have a great degree of control over every one of the project’s phases. Regarding web applications, for example, I always have to rely on programming services provided by others, which turns the whole working progress more complex. Regardless of the offer’s nature (printed or virtual) I prefer to develop work related with artistic projects and cultural institutions, mainly because of the two following reasons: firstly, because I can develop more interesting solutions, from a conceptual standpoint, due to the fact of the target of this kind of initiative being more sensitive to less mainstream proposals; secondly, because I follow a personal creed which is that of avoiding to work for entities solely based on commercial activity. New jobs are always undoubtedly important new challenges, in a major or minor extent, for each new proposal responds to its problem.
02. Of all the work you’ve been in contact with, I ask you to tell me of a piece that particularly moved you and the reason as to why that happened.
In 2005 I was contacted by choreographer Miguel Pereira in order to develop a campaign for the contemporary dance piece he was developing at the time. I watched a few rehearsals before the premier and I saw six male bodies that constantly dressed and undressed themselves. At times, our “voyeur” gaze would divert itself from the human form only to concentrate on the multicoloured game of the different clothing pieces that “danced” along with the choreography. To me it seemed like they were the most important element in the whole piece and that at certain moments they’d rob the dancers of their stardom. It was during one of the rehearsals that I came by the idea of producing textile based posters, relying on the use of cloth with serigraphic print. There were used about 50 different patterns that were branded with a sort of serigraphic “stamp”, using only one colour. This idea of recycling and of budget restraint met the requirements of a very low budget campaign. Furthermore, it responded to the choreographer’s request of the poster not being a mere informative surface but of also being, in a way, capable of turning itself into a fundamental piece of the show. I also believe I was able to convey the multiple colours present in the play, which a printed poster would not translate. In spite of all this, it was one of the very few assignments in which I felt that, in its production phase, the result could be that of a plundering flop when the posters started being publicly exposed. This sense of risk was also felt by the choreographer, who gave the last word regarding this project before it was released. Though it had a great level of acceptance within the audience, and aside from having been the winner of the Young Creators contest’s Graphic Design category that year, the fact that I felt that I was working for someone who recognized the importance of taking chances was the most positive aspect I retained from that project.
03. I was present at the presentation of a piece of yours at the last Pecha Kucha night. At the time you said that you had a great interest in international politics and that that had taken you to the development of something called “A Land without People for a People without a Land”. Can you succinctly describe it? What message were you attempting to convey?
The “A Land without People for a People without a Land” exhibit is comprised of a range of large format posters, with black and white contoured designs, that invite people to fill them in with colour by using the pencils made available for such action. The posters show various maps and charts, as well as drawings I made, based on pictures I took in a 2006 one month trip I made to Palestine, with an English friend. This exhibit is an attempt of mine to convey the social tensions that are a part of that region’s everyday life, thus proposing a new point of view regarding the middle-eastern conflict, as well as a critical and ironic eye that may demonstrate the absurdity of the present situation. I believe that, even though there’s a global speech on Palestine, only a few people can see beyond the shocking images and titles exposed by the media and understand the basic principles of the conflict. My trip to Palestine, where I developed artistic activities for refugee children under the form of voluntary work, made me see small details of the daily life that we’re not aware of simply because they’re not “media material”. To me reality was more shocking through the eyes of daily life and it was these facts that I sought to divulge in the exhibit. Though the original idea and designs are mine, the exhibit is strongly enriched by a textual component written by my friend with whom I embarked on such a trip, Adam Kershaw.
04. Being Design a form of communication, how would you rate its importance in international politics? Could Design help in forming a conscience of the comtemporary world?
It has long been said that Design may change or even save the World. Personally, I don’t adhere to conceptions that defend the Design will save the World by itself. This vision of Design, in which designers are portrayed as superheroes, is quite megalomaniac and egocentric. To me, Design as a bringer of change, only makes sense when partnered with other areas of expertise, such as Politics, Sociology, Anthropology, Education, Culture, among many, many others. Only then will it be able to work as a cultural catalyst and have the desired impact on society. This way, and as a project based field, Design should be applied to systems that change our perception of the environment that surrounds us, making way for a growth in the exchange of values, not necessarily commercial ones, but essentially cultural values.
05. In 1494, Portugal and Spain split the World. And in 1945 the USA and Russia also divided it. Who does so today?
Though I’m not a full fledged believer in the so called “shock of religions”, I believe that nowadays there’s an attempt to divide the world in societies with a Jewish and Christian background and in societies based in Muslim tradition. I used the word “tradition” due to, for example, despite Portugal being considered a secular society, the truth is that you can still feel the presence of very strong religious values in our way of acting or thinking, even in those who consider themselves Agnostics or Atheists. Thus, we bear witness to a supposed bipolarization of the world, based on religious confessions that, paradoxically, all have the same origin (though quite a few defend that they couldn’t differ more). I’ve travelled around countries where the population’s religious confession is overwhelmingly Muslim and there I’ve had a number of conversations regarding political and social subjects that helped a great deal in abolishing the bigotry of the western people, regarding those countries or cultures. The “wall” that separates these supposedly distinct societies is held up by our own ignorance, by our not knowing those who are different from us.
06. I know you also dedicate yourself to Music. Is it a hobby or is it something parallel to your job as a Designer?
I’ve always seen my work as a DJ as something parallel to being a Designer, though it is of relatively less importance. It’s something I started in 1995 and I’ve been doing it since I was a student. Despite it being quite a pleasurable field, it’s been put on standby since I started teaching the subject of Design in the Design and Multimedia courses at Coimbra University. Despite still performing as a DJ, even if quite sporadically, by establishing new priorities in my professional life music has lost some of the importance it had a few years ago in what concerns my personal life.
07. Do you see Music as a way to communicate your ideas? If so, what message(s) do you try to convey to your listeners?
Contrary to my activity as a Designer (and now also as a teacher), my performances as a DJ are absolutely spontaneous and relaxed. There’s no message behind my “sets”. I only hope to be able to give those who listen to my music an enjoyable night.
08. Is there any advice you’d like to give to Design students who are preparing their difficult entry into the professional world?
Before defining ourselves by our professional activity, in this case being a Designer, we have to define ourselves as persons, as individuals. And as individuals we have to create our own set of moral and ideological values. How can someone who has no particular interest in social, political, religious and other subjects be a good professional? How can we be good Designers if our conscience is overtly flexible or alienated? I’m not defending that we should all be political or religious activists. I, for example, though I am an atheist, recognize that we need to know the way the various forms of religion work in order to better understand the society we live in due to their undeniable influence. The same happens with a lot more different ideological or value systems. Knowing the world we live in, in its most diverse forms and not just the “bubble” that surrounds us, makes us better individuals and, consequently, better professionals. Knowledge is, therefore, key.
09. Where do you see yourself in ten years?
Life is definitely full of surprises and ten years ago I didn’t imagine myself as I am today. I probably knew I wanted to be a Designer, since I was studying in that direction. But I’m talking more about my current way of thinking and acting. It’s certain that in a decade I’ll be a different person and that, even if I try, I won’t be able to describe that person. It’s just a question I never ask myself.
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