28 de maio de 2007

Lino (in)tocável

Se o sr. Ministro Mário Lino pensava que o seu tão acarinhado “compromisso pessoal” estava incondicionalmente assegurado, desengane-se.

Apelando ao bom funcionamento da democracia portuguesa, o Presidente da República (P.R.) apelou na semana passada ao debate profundo na Assembleia da República (A.R.), sobre o potencial aeroporto da OTA. Digo bem – potencial – não novo.

No rescaldo do apelo, o ministro afirmou que a A.R. já tem preparado um colóquio sobre o tema. Um colóquio que será aberto pelo próprio ministro, quem sabe com a conversa do deserto que é margem sul, seguida da participação de especialistas em diferentes matérias. Dos deputados espera-se uma participação pontual, e tão inócua quanto possível.

Revelando maturidade e lucidez, o P.R. alertou para a forma mais democrática de debater um assunto desta natureza e importância. Não pela via da metáfora bizarra ou do tom jocoso e labrego inter-partidário, mas antes pelo conselho credível e democrático, capaz de avaliar todo o projecto de forma imparcial (ou pelo menos o mais possível). Em plenário ou em comissão.

No meio de toda a controvérsia circense que se vem arrastando nos últimos meses, o P.R. demarca-se do governo para se mostrar de acordo com o que lhe é pedido – uma figura de consenso.

A OTA não deve ser fruto de uma prepotência política mas sim de um “consenso político, tão amplo quanto possível”, sustentado por uma profunda pesquisa e avaliação técnico-científica. O impacto de um empreendimento deste tamanho nos três níveis, local, regional e nacional, é brutal e a decisão quanto à sua localização, que afecta o seu funcionamento e viabilidade económica, deve ser bem medida e não decidida segundo parâmetros pessoais, em conversas de interesses duvidosos. O novo aeroporto deve ser uma mais valia no território nacional e não mais um desordenamento caprichoso.

A OTA deve, antes de tudo, servir o país. Não vivemos (acredito eu) num far-west sem lei, mas num país onde a democracia ainda tem o seu valor. Os que se acham intocáveis que se acautelem.

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