13 de julho de 2007

Hortas urbanas


A crescente necessidade de espaços verdes dentro das cidades surge como consequência da evolução que estas têm sofrido ao longo do tempo. Até à Revolução Industrial a “fase continua” do território era garantida pela paisagem rural, onde pontuavam os aglomerados urbanos, que constituíam a sua “fase descontínua”. Actualmente observa-se o oposto. A expansão urbana actual culmina no despovoamento de bairros tradicionais, impondo muitas vezes uma volumetria excessiva às novas construções, a degradação de espaços de carácter notável, a destruição de logradouros hortados e uma generalizada degradação da qualidade ambiental. Surgem então espaços abertos degradados, vazios urbanos, núcleos de segregação social. Nos últimos anos, tem-se verificado a utilização desses espaços para uma ocupação agrícola sempre que as condições o permitem, nomeadamente, para o cultivo de hortícolas, principalmente nos subúrbios das grandes cidades, dando origem ao conceito de hortas urbanas. Este fenómeno não é mais que o reflexo de uma das necessidades mais básicas do ser humano: a dependência da paisagem rural. Esta é indispensável não só à existência como à manutenção das cidades. Hoje em dia, devido às dimensões das grandes cidades e das suas áreas metropolitanas torna-se necessária a sua presença intrínseca, que garanta a continuidade da natureza e assegure o funcionamento dos sistemas ecológicos, dependentes da circulação do ar, da água e da matéria orgânica.

A crescente proporção de ocupação dos vazios urbanos por áreas hortadas, nomeadamente com a ocupação de percursos paralelos às auto-estradas e mesmo os próprios taludes, como acontece, por exemplo, na A5, CREL, 2ª Circular e IC 19 exige uma reflexão cuidado sobre o assunto. A existência destes pequenos espaços livres cultivados no espaço urbano, representa para muitas famílias uma necessidade não só económica como cultural, que deve ser incentivada e não ignorada. Estes espaços permeáveis, na sua essência, e plenos de vida, têm uma importância indispensável para a sustentabilidade ambiental e para a manutenção da biodiversidade, ajudando à continuidade de corredores verdes no interior dos perímetros urbanos, assegurando uma maior qualidade ambiental e de vida para os habitantes locais.

A necessidade de praticar agricultura urbana ganha ainda mais força se tivermos em consideração a sua dimensão universal. Em todo o mundo existem 800 milhões de pessoas que se dedicam à prática de agricultura urbana, o que corresponde a 15% da produção mundial de alimentos, sendo que nos países da comunidade europeia, 30% da agricultura é praticada por agricultoras a tempo parcial, que têm outras profissões.

Em Portugal, nos anos 50, o Arqº Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles e o Prof. Francisco Caldeira Cabral realizaram um projecto de hortas para Pedrouços, Lisboa. Posteriormente, foi criado o Parque Periférico de Benfica a Carnide, com uma área de 300 ha. Este parque pode ser considerado uma aproximação aos parques agrícolas existentes noutros países europeus. Em 1996 foi criada a Quinta Pedagógica dos Olivais, que teve excelente recepção por parte da população, recebendo aproximadamente 100 000 visitantes por ano, incluindo muitas escolas primárias. A Câmara Municipal do Seixal desenvolveu também trabalhos de requalificação das hortas já existentes, e promoveu a criação de novos espaços hortícolas nos baldios urbanos assim como a incorporação de hortas de carácter pedagógico nas escolas., a serem integradas na Estrutura Ecológica Municipal.

No entanto, este tipo de ocupação espacial não reúne consenso. Se muitos reconhecem o seu valor social e económico e a sua inquestionável importância nas áreas urbanas, outros anseiam pela sua extinção. Veja-se o caso das hortas de Paço de Arcos, adjacentes à ribeira de Porto Salvo, que estão a ser arrasadas para dar lugar a gigantes de betão. Embora o departamento de planeamento e gestão urbanística da Câmara Municipal de Oeiras assegure que os edifícios não se encontram em leito de cheia, esta não é, com certeza, a ocupação do solo mais favorável, contribuindo para a degradação do equilíbrio ecológico.




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