14 de outubro de 2007

10 anos na ribalta


O Guggenheim de Bilbau comemora este ano o décimo aniversário. Está de parabéns, tal como o arquitecto que o concebeu, Frank Gehry.

Enquanto objecto arquitectónico, o museu de arte fez mais por Bilbau nestes últimos anos do que muitos planos de revitalização juntos. Conseguiu, a par com outras iniciativas adequadas, trazer alegria a uma cidade empoeirada e sobretudo elevá-la à categoria de cidade mundialmente conhecida.

Mas a aposta num edifício de 100 milhões de dólares como forma de limpar a fuligem da envelhecida cidade industrial esteve longe de ser consensual. Nada garantia que um só edifício conseguisse aquilo que só uma estratégia urbana global parecia ser capaz. Muito menos em tão pouco tempo.

Dez anos foram suficientes para tornar este edifício singular numa tradição. Actualmente apenas rivalizam com ele, na Europa, o Louvre e a Tate Gallery. E, depois dele, 200 cidades mostraram vontade de albergar um terceiro elemento desta marca milionária, com Abu Dhabi à cabeceira.

A receita foi bem sucedida e os bascos parecem querer perpetuá-la. Calatrava, Hadid, Foster... e até Siza terá dentro de pouco tempo cunhado a cidade. Mas poderá uma cidade sobreviver apenas à custa de edifícios marcantes? Obviamente que não. Siza, a propósito da obra de Gehry (de quem se diz admirador), fala da teoria dos opostos: “em qualquer cidade, há edifícios que formam o tecido básico, uniforme, e há edifícios que se destacam com um desempenho mais complexo que uma casa.” A obra de Gehry encaixa-se sem dúvida nesta segunda categoria.

Dez anos – dez milhões de visitantes. Em termos de marketing urbano os números falam por si. Tive a oportunidade de fazer parte destas estatísticas e faço parte daqueles que, dando o devido valor à obra enquanto elemento simbólico, cénico, revitalizante e contrastante da cidade, lhe reconhecem um valor essencialmente escultórico.

Quando a expectativa é alta, a desilusão também o pode ser. Aquilo que lhe sobra em significado (independentemente do valor estético) falta-lhe em boa resolução arquitectónica construtiva e em valor urbano.

Nem todos os arquitectos podem dar-se ao luxo de criar esculturas no seu valor mais puro. É o que Gehry faz e, admitamos, fá-lo bem. Longa vida ao Guggenheim.

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