23 de fevereiro de 2009

Manifesto ao Manifesto


Quase de propósito, depois de destituir Hollywood do seu posto, publico uma imagem que o invoca. MANIFESTO é a nova campanha da YSL. O que não podia surgir mais à propos. Manifesto-me aqui contra aquilo que está a acontecer em França.



Yves Saint Laurent, falecido a Junho de 2008, é um símbolo inequívoco de França e dos franceses. Representa-lhes a alma, o apurado sentido estético, e os conflitos que o povo francês sempre viveu com ele próprio.

Yves Saint Laurent, famoso estilista, foi também um importante coleccionador de arte. O seu gosto ecléctico (há quem lhe chame até o último dos eclécticos) reuniu um sem número de peças importantes, numa colecção de valor incalculável. Ok, é calculável. Entre 200 e 230 milhões de euros.

Morto o senhor, Pierre Bergé ficou com a tutela da colecção e responsável por lhe traçar um destino. Como o Estado Francês não foi capaz, até agora de vincar o pé e avançar com a sua compra integral, Bergé iniciou um conjunto de leilões, findos os quais a colecção estará completamente estrilhaçada.

Para além do mais, existem ainda países, como a China, que invocam o retorno de algumas peças ao país de origem, por terem sido roubadas por dealers que, posteriormente as teriam vendido a YSL. Mas qual foi o grande Museu que não foi construído com base nas pilhagens? Que seria do Louvre, do Victoria & Albert, do Metropolitan, etc? Infelizmente ou felizmente, para que haja um grande colecção, teve de ter havido uma grande pilhagem.

Mas será que ninguém compreende o verdadeiro valor deste conjunto de peças? Esta foi uma das obras mais importantes deixada pelo estilista, a par da marca e da fundação, ambas com o seu nome.

Admitindo porém que a colecção possa estar destituída do calculismo coleccionista necessário para a valorizar, estas foram as peças que serviram de inspiração ao estilista para criar alguns dos mais fantásticos ícones do século XX. Foram a alma do lugar onde viveu e aquilo que o animou durante toda a sua vida.

Será que 230 milhões de euros é assim tanto para o estado francês alegar que não tem possibilidades financeiras para tomar conta dela? Ou será que se está aqui a discutir afinal outra coisa?

É lamentável que espólios destes, cada vez mais raros nos dias que correm, sejam completamente estrilhaçados pelos ávidos necrófagos, que muitas vezes não fazem mais do que especular com os bens que outrora constituiram uma alma.

Valha a marca por muitos anos, antes que alguém decida também investir na sua dilaceração.


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