14 de maio de 2007

Uma visão arquitectónica da esquerda

No rescaldo da batalha campal das últimas semanas na CML, surge uma manifestação de cidadania louvável, chamada Helena Roseta. Numa emancipação contra a máquina partidária socialista, não inédita se relembrarmos o apoio a Alegre, Roseta avança com uma possível candidatura à autarquia.

Vozes mais acaloradas aclamarão por certo a atitude. Penso mesmo que o devem fazer. Mas o que lhe sobrou em valores cívicos, faltou-lhe em estratégia e visão políticas. Que uma figura proeminente da vida da capital e do país se insurja contra o laconismo partidário é bom. Mas que a mesma pessoa não antecipe que o partido avance com uma figura de topo para as eleições intercalares é, no mínimo, ingénuo. António Costa, não era esperado e não é ainda um facto consumado. E, sendo possível a sua candidatura, o que se antevê desde já é que esta vai ser uma luta de pesos políticos pesados.

Insurge-se contra o “tacticismo dos partidos”. Mas esquece que a máquina abafará por certo as suas boas intenções. E boas políticas não se consolidam com boas intenções mas com as acções em timing certo, decorrentes dessas intenções. Roseta considera que tem dever enquanto cidadã e política de agir. Esperemos que o faça da maneira mais inteligente.

Mas Roseta representa aquilo que civicamente o PS tem de melhor para oferecer. Ex-autarca de Cascais, ex-vereadora de Lisboa, ex-deputada, e ainda bastonária da Ordem dos Arquitectos, a sempre arquitecta mostra, uma vez mais vontade para construir soluções políticas em situações de aperto.

O que talvez me agrada mais nesta história é o facto de Roseta ser arquitecta. Tentando não puxar demais a brasa à minha formação profissional (mas não deixando de o fazer), os problemas na capital são muitos e variados, mas os que se prendem com o urbanismo e as soluções arquitectónicas poderiam, pela primeira vez, ser analisados politicamente por uma pessoa sábia, objectiva e capaz na matéria. Capaz de perceber que os problemas de Lisboa resolver-se-iam em grande parte com estratégias urbanísticas bem consolidadas. Capaz de transmitir ao concelho o que de bom a esquerda tem e por vezes não consegue mostrar. Capaz de dar uma visão arquitectónica que falta à esquerda e falta sem dúvida à capital.

Roseta à presidência – acto de bravura cívica ou de loucura política?

1 comentário:

Maria João disse...

Que acto de bravura não implica uma boa dose de loucura?